sexta-feira, 10 de setembro de 2010







dispusesse melhor da força das armas, como em muitos outros lugares do mundo.

Havia uma hierarquia social, exploradores e explorados, e até formas de escravidão na
África antes da chegada do europeu. E escravidão é escravidão, a forma mais brutal de
exploração que a humanidade já conheceu, não importando onde e como se deu (e em
alguns lugares ainda se dá). Porém, a escravidão na África não pode ser confundida com
aquela que os afro-brasileiros conheceram nas Américas ou no Brasil. Na África, o
cativeiro era situação restrita a poucos indivíduos, uma atividade marginal e de pouca
importância social ou econômica. Cativos africanos não eram vistos como coisa ou
tratados como os únicos destinados ao trabalho em suas aldeias. Trabalhavam lado a lado
com os demais membros das famílias que os incorporavam. Não representavam a base de
uma pirâmide social rígida. A escravidão africana não era uma atividade
institucionalizada sob um modo de produção divisor de classes sociais distintas. Cativo
africano possuía status social subalternizado, porém mutável. Não podia ser vendido, a
não ser em casos extraordinários. Participava efetivamente de seu grupo familiar. O
excedente por ele produzido era delimitado consuetudinariamente. Sua condição não era
transmitida hereditariamente ad eternum. Em duas ou três gerações, seus descendentes
evoluíam à cidadania plena, em igualdade aos demais descendentes de seu escravizador.
Uma ou mais famílias extensas constituíam uma comunidade aldeã de agricultores e
artesãos. Diversas aldeias podiam formar uma pequena chefia, e esta o embrião de um
Estado de pequeno, médio ou grande porte, onde até mesmo um outrora filho ou neto de
cativo podia se tornar uma liderança política respeitada.

Um novo capítulo se abriu para a história da África quando em 1482 o manikongo
Nzinga Kavu foi informado de que estranhas naves se aproximavam do porto do Zaire.
Eram as embarcações de Diogo Cão, procurando estabelecer entrepostos marítimos para
o rico comércio das Índias. Eram os primeiros europeus a trazer as mais exóticas
mercadorias e as oferecer em troca dos produtos locais. Também passaram a exigir
homens e mulheres para levar em seus navios cada vez mais constantes e abarrotados. É
certo que antes da chegada dos portugueses já existia também um (raquítico) tráfico de
africanos escravizados aos reinos árabes e ao Mediterrâneo. Mas o comércio de carne
humana em proporções jamais conhecidas na África foi introduzido por nações
mercantilistas européias como Holanda, França, Inglaterra e sobretudo Portugal, sendo
responsável por interferência e transformação radicais no mais que milenar processo
histórico pelo qual vinham passando aqueles povos.

Não se sabe ao certo quantos cativos teriam sido trazidos para as Américas. Se aceita hoje
algo entre 13 e 14 milhões. Em números redondos, estima-se ter chegado à América
espanhola cerca de 2,5 milhões. Na Anglo-América, 500 mil. No Caribe britânico, 2
milhões. No francês, 1,6 milhão. No holandês, 500 mil. No minúsculo Caribe
dinamarquês, 28 mil. Na Europa, incluindo Portugal, Açores, Ilhas Canárias, etc., 200
mil. No Brasil, a maior colônia escravista do mundo moderno, 5 ou 6 milhões. Tamanha
foi a brutalidade do tráfico, o desespero e resistência do africano diante dele que, em todo
seu processo de captura, submissão, deslocamento do interior ao litoral, adestramento
violento e travessia nos horríveis navios negreiros, que estima-se terem morrido no
mínimo três africanos para cada um que na América desembarcou.